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terça-feira, 23 de abril de 2013

Processo de beatificação de D. Oscar Romero

Esta é uma notícia com especial interesse para os nossos amigos (e leitores) do Brasil, mas também tem interesse e desperta a curiosidade deste lado do Atlântico (fonte agência Ecclesia):




Cidade do Vaticano, 23 abr 2013 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Pontifício para a Família revelou este domingo que o Papa Francisco decidiu prosseguir o processo de beatificação de D. Oscar Romero (1917-1980), antigo arcebispo de São Salvador, assassinado quando presidia a uma missa.

A declaração foi feita à imprensa pelo arcebispo Vincenzo Paglia, também postulador da causa de beatificação, revela hoje o portal de notícias da Santa Sé, adiantando que o processo chegou ao Vaticano em 1997, tendo o assunto ficado parado durante vários anos.

D. Oscar Romero denunciou a execução de agricultores de El Salvador autorizados a tomar posse de terras pela lei da reforma agrária, fez eco das injustiças sociais e opôs-se às medidas repressivas tomadas pelos militares.

Reagindo à notícia, o bispo auxiliar de São Salvador, D. Gregorio Rosa Chávez, afirmou que Oscar Romero “foi como o bom pastor que deu a vida por suas ovelhas”, enquanto que o presidente da República manifestou a intenção de agradecer ao Papa a continuação do processo de beatificação.

Mauricio Funes anunciou que pretende deslocar-se ao Vaticano no fim de maio para uma eventual audiência com Francisco, durante a qual quer informar o Papa sobre a ação do Governo em favor da pacificação do país.

O antigo arcebispo da capital salvadorenha foi assassinado por um comando de extrema-direita quando celebrava missa na capela de um hospital oncológico.

O rito de beatificação constitui uma etapa essencial para a canonização, mediante a qual um cristão é declarado santo e se alarga a sua veneração a todas as nações e congregações religiosas.

News.va/RJM

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Convite a "ouvir"



Ontem, na eucaristia das 10h em Montebelo o Padre Joaquim Santos apelou-nos para escutar a Palavra de Deus, ir além do simples ouvir das leituras. Também o Santo Padre fez o mesmo apelo, tal como transcrevemos aqui da Agência Ecclesia:

Cidade do Vaticano, 21 abr 2013 (Ecclesia) – O Papa Francisco convidou hoje os jovens a ouvirem a “voz” de Jesus e terem a coragem de optar pela vida sacerdotal e consagrada na Igreja Católica.

“É preciso arriscar a vida pelos grandes ideais”, disse o Papa, da janela do apartamento pontifício, falando a dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.
No 50.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, Francisco defendeu que essas mesmas vocações nascem “na oração e da oração”, porque só assim podem “perseverar e dar fruto”.

“Há muitos jovens hoje, aqui na praça. Gostaria de perguntar-vos: alguma vez ouviram a voz do Senhor que através de um desejo, uma inquietação, vos convidava a segui-lo mais de perto? Tivestes vontade de ser apóstolos de Jesus”, questionou o Papa, que ouviu o ‘sim’ de vários dos presentes como resposta.

Francisco recordou os dez novos padres que tinha ordenado de manhã, na Basílica de São Pedro, e convidou a uma “oração especial para que o Senhor envie muitos operários para a sua messe”.

Jesus, referiu, chama para uma relação que seja “reflexo da que ele próprio tem com o Pai, uma relação de pertença recíproca na confiança plena, na comunhão íntima”.

“A voz de Jesus é única. Se a aprendermos a distingui-la, ele guia-nos no seu caminho de vida, um caminho que ultrapassa também o abismo da morte”, realçou.

Os jovens presentes gritaram o nome de Francisco por diversas vezes e este convidou-os a gritar também ‘Jesus’.

Como habitualmente, o Papa despediu-se com votos de “bom domingo” e “bom almoço”.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Torre dos Clérigos - 250º Aniversário



 Hoje a Agência Ecclesia tem um artigo sobre "a nossa torre". Esta torre, da Igreja dos Clérigos, é uma das imagens "de marca" da nossa cidade do Porto e de Portugal no mundo. O artigo que a seguir transcrevemos fala do 250º aniversário da torre. Esta e muitas outras atividades se seguirão para assinalar tão assinalável acontecimento e monumento.



O Porto vai assinalar entre sábado e domingo os 250 anos da Torre dos Clérigos, um dos ex-líbris da cidade, com um programa de concertos de carrilhão e atuações musicais «non stop» (sem parar).

A iniciativa, promovida pela Irmandade dos Clérigos, inclui espetáculos de música barroca e contemporânea à construção do edifício, do século XVIII, na igreja dos Clérigos, por parte dos alunos da Escola Superior de Música do Porto.

Depois a inauguração das obras de conservação e restauro da capela de Nossa Senhora da Lapa, a igreja dos Clérigos tem obras “de intervenção e restauro das caixilharias e ferragens dos janelões da frontaria”, disse à Agência ECCLESIA o padre Américo Aguiar, juiz da Irmandade dos Clérigos.

A Irmandade dos Clérigos aguarda também “a aprovação do projeto de requalificação total do edifício” por parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, mas existe “a esperança que se possa concretizar o projeto”.

O sacerdote revelou que na terça-feira vai decorrer o relançamento do livro ‘Uma aventura no Porto’, de Isabel Alçada e de Ana Maria Magalhães, que terá um capítulo novo relacionado com os 250 anos dos Clérigos, com “a presença de alunos das escolas e colégios da cidade”.

Ainda este mês vai ser lançado “um sabonete” com o objetivo de “provocar a cidade para a criação de um novo merchandising”.

A Irmandade dos Clérigos pretende que o monumento tenha “um novo brilho” e que “seja devolvido à cidade”, para “renovar a relação de namoro, noivado e amizade com os habitantes”.

Aquele que foi “durante muitos anos o ponto mais elevado do Porto” é para Germano Silva, historiador da cidade, “uma varanda virada para o Rio Douro”.

A Torre dos Clérigos chegou a ser aproveitada como “marca para os navios que vinham do alto mar”, salientou.

O monumento, projetado pelo arquiteto italiano Nicolau Nasoni (1691-1773), começou a ser construído em 1732 e ficou concluído em 1763; tem 76 metros de altura que podem ser subidos pelos visitantes através de uma escada em espiral com 240 degraus, num edifício que já foi o mais alto de Portugal.

Com planta octogonal, a igreja dos Clérigos foi construída “numa nesga de terreno” que existia ao cimo da calçada da Natividade, como se chamava na altura a rua dos Clérigos, e o arquiteto toscano “fez um prodígio fantástico”, sustenta Germano Silva.

O projeto inicial “admitia a construção de duas torres”, mas como o terreno era diminuto, Nasoni desistiu da “primeira ideia”.

O edifício é um monumento nacional desde 1910 e está inserido na zona classificada como Património da Humanidade.



quarta-feira, 17 de abril de 2013

Bento XVI de parabéns



O papa emérito, Bento XVI, fez ontem 86 anos.

Transcrevemos a Agência Ecclesia:

Cidade do Vaticano, 16 abr 2013 (Ecclesia) – O Papa emérito Bento XVI completa hoje 86 anos de idade, data assinalada no Vaticano pelo seu sucessor, Francisco, na missa a que presidiu esta manhã.

“Ofereçamos a missa por ele (Bento XVI), para que o Senhor esteja com ele, o conforte e lhe dê muita consolação”, declarou o novo Papa, na homilia da celebração a que presidiu na capela da Casa de Santa Marta.

Joseph Ratzinger nasceu em Marktl am Inn (Alemanha), no dia 16 de abril de 1927, e passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da Áustria.

Nos últimos meses da II Guerra Mundial (1939-1945), foi arrolado nos serviços auxiliares antiaéreos pelo regime nazi.

O Papa alemão lembrou a sua infância num diálogo durante o último Encontro Mundial das Famílias, em junho de 2012, na cidade de Milão, recordando a importância do domingo, com a missa, e da música na sua própria família.

“Éramos um só coração e uma só alma, com muitas experiências comuns, mesmo em tempos muito difíceis, porque era o tempo da guerra, como antes fora o tempo da ditadura e, depois, o da pobreza”, disse.

Juntamente com o seu irmão Georg, foi ordenado padre a 29 de junho de 1951; dois anos depois, doutorou-se em teologia com a tese ‘Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho’.

De 1962 a 1965, participou no Concílio Vaticano II como ‘perito’, após ter chegado a Roma como consultor teológico do cardeal Joseph Frings, arcebispo de Colónia.

Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o arcebispo de Munique e Frisinga; a 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal e escolheu como lema episcopal ‘Colaborador da verdade’.

O mesmo Paulo VI criou-o cardeal, no consistório de 27 de junho de 1977.

Em 1978, participou no Conclave, celebrado de 25 a 26 de agosto, que elegeu João Paulo I; este nomeou-o seu enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional que teve lugar em Guayaquil (Equador) de 16 a 24 de setembro; mo mês de outubro desse mesmo ano, participou também no Conclave que elegeu João Paulo II.

O Papa polaco nomeou o cardeal Ratzinger como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981.

No dia 19 de abril de 2005 foi eleito como o 265.º Papa, sucedendo a João Paulo II; a 11 de fevereiro de 2013, Dia Mundial do Doente e memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, anunciou a renúncia ao pontificado, com efeitos a partir do dia 28 do mesmo mês, uma decisão inédita em quase 600 anos de história na Igreja Católica.

O Papa alemão evocou a “avançada idade” para justificar a sua decisão e abrir caminho à eleição do seu sucessor, Francisco.

Bento XVI encontra-se na residência pontifícia de Castel Gandolfo, arredores de Roma.

Joseph Ratzinger realizou 24 viagens ao estrangeiro, incluindo um visita a Portugal, entre 11 e 14 de maio de 2010, com passagens por Lisboa, Fátima e Porto.

Bento XVI assinou três encíclicas e presidiu a três Jornadas Mundiais da Juventude, para além de ter convocado cinco Sínodos de Bispos, um Ano Paulino, um Ano Sacerdotal e um Ano da Fé, que decorre até novembro.

Bento XVI encerrou em 2012 a sua trilogia sobre ‘Jesus de Nazaré’ com um livro sobre a infância de Cristo e assinou um artigo sobre o Natal no jornal económico ‘Financial Times’; em 2010 foi lançado o livro-entrevista «Luz do Mundo», de 2010, resultante de uma conversa com o jornalista alemão Peter Seewald.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Francisco I: Cristianismo e os «mandamentos»




Transcrevendo a Agência Ecclesia com declarações do Papa Francisco que assim nos convida a pensar nos Mandamentos:




O Papa Francisco afirmou hoje no Vaticano que o Cristianismo é mais do que um conjunto de “mandamentos” e desafiou os católicos a anunciarem a sua fé num mundo para o qual “Deus não serve”.

“A tentação de deixar Deus de lado para nos colocarmos a nós próprios no centro está sempre à porta e a experiência do pecado fere a nossa vida cristã”, alertou, na audiência pública semanal que reuniu dezenas de pessoas na Praça de São Pedro.

“Ser cristão não se reduz a seguir mandamentos, mas quer dizer estar em Cristo, pensar como Ele, agir como Ele, amar como Ele; é deixar que Ele tome posse da nossa vida e a mude, a transforme, a liberte das trevas do mal e do pecado”, acrescentou.

Para o sucessor de Bento XVI, os cristãos devem ter a “coragem da fé” e evitar a mentalidade que diz que “Deus não serve, não é importante”.

“É exatamente o contrário, só portando-nos como filhos de Deus, sem desencorajarmos por causa das nossas quedas, sentindo-nos amados por Ele, que a nossa vida será nova, animada pela serenidade e alegria. Deus é a nossa força, Deus é a nossa esperança”, declarou.

Após afirmar que “Deus é sempre fiel”, o Papa realçou a importância de mostrar publicamente “a alegria de ser filhos de Deus” e a “verdadeira liberdade” de viver em Jesus, que afasta a “escravidão do mal, do pecado, da morte”.

“Olhemos para a pátria celeste, teremos uma nova luz e força, também no nosso compromisso e nas nossas fadigas quotidianas. É um serviço precioso que temos de dar a este nosso mundo, que muitas vezes já não consegue levantar o olhar para o alto, para Deus”, sublinhou.

A reflexão sobre a ressurreição de Jesus abordou as consequências deste acontecimento, sem o qual a fé é “vã”.

“Quantas vezes, na nossa vida, as esperanças desvanecem; quantas vezes as expectativas que levamos no coração não se concretizam. A nossa esperança dos cristãos é forte, segura, sólida nesta terra, na qual Deus nos chamou a caminhar, e está aberta à eternidade”, prosseguiu.

Na conta '@Pontifex' do Papa na rede social Twitter: "Se nos comportarmos como filhos de Deus, sentindo-nos amados por Ele, a nossa vida será nova, cheia de serenidade e de alegria".

""Ser cristão não se reduz a cumprir mandamentos, mas é deixar que Cristo tome posse da nossa vida e a transforme", referia outra mensagem publicada em nove línguas para mais de cinco milhões de seguidores.

Abaixo, a saudação do Papa Francisco I aos peregrinos de língua portuguesa


terça-feira, 9 de abril de 2013

Montebelo numa Páscoa mais feliz





O Centro de Catequese de Montebelo em geral, particularmente os jovens e pais dos grupos de 9º e 10º ano, agarraram o desafio de ajudar a campanha “Por uma Páscoa mais Feliz” que já vai na sua 4ª edição.

Esta campanha visa ajudar uma instituição “onde a simplicidade reina e onde a Paz de Espírito irradia em cada pedaço de chão que se pise!”, como a define a nossa amiga e coordenadora da campanha, Laura Cerqueira M. Lima.

O desafio proposto foi ajudar a Casa do Redolho, em Águeda, com todo o tipo de produtos que fazem falta numa casa, ou não fosse esse o seu nome. Esta casa é parte integrante da obra de Nossa Senhora das Candeias e está localizada em Águeda.

Representaram o nosso centro de catequese na entrega: Leonor, Maria João, Rita, Alexandre, João, Carlos, Mariana, Madalena, Ana Paula, Manuel, Laura, Emília, Susana, Daniela Alexandra, Helena, Rita Guerra, Sofia, Maria do Rosário, Mafalda, Miguel, Nuno, Andreia, Luis, Clara, Rita Gomes e Daniela Pinto.


Apresentam-se aqui imagens do momento de entrega dos géneros e a lista dos géneros entregues. 



Todos os que estivemos lá ficamos com a certeza que o trabalho não ficou “feito”. Os donativos são sempre úteis e necessários porque a casa tem  que “manter” os seus residentes 365 dias por ano, e não apenas nas épocas festivas como o Natal e, agora, a Páscoa, onde os donativos compõem a despensa - a amabilíssima directora da casa, professora Rosa Maria Vilar, informou- nos que chegamos numa altura muito importante, porque a despensa estava vazia.  




A ajuda a esta casa também pode ser feita através da consignação do IRS (as entidades reconhecidas pelo ministério das finanças estão disponíveis neste link http://info.portaldasfinancas.gov.pt/NR/rdonlyres/14AC8CD5-EF4C-4D73-A704-F44B0BD0541C/0/2012_20130228.pdf), ou através de transferência bancária.

Agradecemos aos coordenadores de campanha, Laura e Hernâni, pelo privilégio que nos deram de poder participar na entrega dos géneros e também aos particulares (muitos, felizmente, e que não conseguimos aqui enumerar) e empresas  que contribuíram (Cafés Delta - Comendador Nabeiro, grupo Sarbec, Nutricafés e Achbrito) - espero não esquecer aqui ninguém.

Ajudem e ajudem-nos a ajudar. Qualquer dúvida, nomeadamente sobre os donativos que poderão fazer, podem contactar-nos através do nosso endereço de correio electrónico (capelamontebelo@gmail.com indicando como assunto Casa do Redolho).

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Padre António Vieira, cidadão do futuro






Hoje transcrevemos, parcialmente, uma notícia do jornal Sol:

Fernando Pessoa confessou ter chorado ao lê-lo em criança e chamou-lhe «imperador da língua portuguesa». José Saramago defendeu que «a língua portuguesa nunca foi mais bela que quando a escreveu esse jesuíta». Alexandre Herculano aconselhava os jovens escritores do romantismo incipiente a «tomar caldinhos de Vieira». No caso do Padre António Vieira (1608-1697) e da sua obra, toda a exaltação será justa.

Pregador sacro, foi também homem de ação e de política, pragmático e tenaz, um pioneiro, um visionário. Nenhum outro conseguiu tal equilíbrio sereno mas engenhoso entre a orgânica cursiva das ideias e a propriedade e expressividade da linguagem, graças a um magistral domínio da língua. Se não, faça-se-lhe jus e leia-se o seguinte fragmento do Sermão do Espírito Santo, de 1657: «Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa a formar um homem; primeiro, membro a membro e, depois, feição por feição, até à mais miúda. Ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos. Aqui desprega, ali arruga, acolá recama. E fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar». Assim também e após séculos de receção conturbada, renasce o Padre António Vieira e a sua obra.

Missionário apaixonado, Padre António Vieira é também menos conhecido como político e crítico social, capaz de espantoso e ainda actualíssimo realismo. Através das cartas, José Eduardo Franco distingue-o mesmo como «pensador anti-crise», isto é, «preocupado com a história de Portugal do momento, empenhado na viabilidade e independência do país e autor de ideias e sugestões completas».Vieira criticou a intolerância religiosa, a corrupção ou as discrepâncias entre ricos e pobres, defendeu os índios e os judeus. Muitas das suas propostas inovadoras soçobraram, «mas, pasme-se, o Marquês de Pombal, seu detractor, aplicará afinal muitas delas», firmando-o como um iluminista avant la lettre. Em A Chave dos Profetas, descobrimo-lo também na plenitude da sua utopia profética reconciliadora dos homens. Tal como defendeu o catedrático Aníbal Pinto de Castro, Vieira «projectou uma cidadania global do futuro».

Com a sua Obra Completa, agora publicada, poderemos por fim apreender a extensão da riqueza e coragem da sua cruzada: «A iniciação poderá ser feita, por exemplo, a partir das relações de viagens, que o mostram como uma espécie de Indiana Jones das missões e que dariam até um notável filme de aventuras», segundo Miguel Real.

sábado, 6 de abril de 2013

Ano da Fé - Abril 2013





No fundo, sinto que a minha vida é sempre governada por uma fé que já não tenho. A fé tem isto em particular: mesmo quando desaparece, continua a agir.

Ernest Renan

Homilia da Páscoa de D. Manuel Clemente

Hoje, transcrevemos a homilia da Páscoa da Ressurreição do Senhor (de D. Manuel Clemente):



Sepulcro vazio, ou espaço oferecido à resposta crente

«Pedro entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou.»


Amados irmãos e irmãs, reunidos na Páscoa de Cristo: O trecho evangélico que acabámos de escutar, na sua aparente linearidade, contém quase tudo o que precisamos de aprender para “ver” pascalmente as coisas, como testemunhas da ressurreição de Cristo.

E bem precisamos desta visão novíssima das coisas, especialmente dos grandes “vazios” com que deparamos à nossa volta e em tantas vidas, material ou espiritualmente esvaziadas, ou nos dois sentidos ao mesmo tempo. Bem precisamos, para nos reanimarmos de outro Espírito e reencontrarmos Quem nos faça recomeçar – e recomeçar doutra maneira e a outra luz.

Quase tudo, de facto, poderemos “ver” à luz da Páscoa, mesmo sem precisarmos de recorrer à ornamentação que séculos de exercícios plásticos nos têm oferecido para ilustrar aquele momento único, que aliás ultrapassa qualquer representação possível.

Compreendemos a intenção dos artistas e agradecemos ao Deus que os inspira. Ainda assim, deixai-me dizer, que aprecio mais o que eles nos fazem adivinhar do que propriamente o que pretendem evidenciar. Como na boa literatura ou na boa música, que valem muito pelo que nos oferecem em letra e som, mas não valem menos pelo que nos deixam a ecoar na memória deslumbrada. Como na verdadeira amizade, que tanto se alegra com a presença como persevera – ou até se experimenta mais - na própria ausência.

Basicamente, tudo nos reconduz à surpresa daquele sepulcro vazio. De seguida, os evangelistas sugerem-nos as respostas encontradas para tal facto, que se condensam na presença nova do Ressuscitado no meio dos seus, traduzida pelas várias narrativas recolhidas.

Assim continua a ser hoje, se repetirmos ao nosso modo o que aqueles discípulos fizeram. Primeiro que tudo, se “corrermos juntos” ao sepulcro. Aqui estamos nós, muito mais do que dois e em idêntica manhã. Nisto mesmo figuramos a Igreja do mundo inteiro, que se apressa a procurar e servir o seu Senhor em tudo quanto O assinale, em qualquer tempo e espaço.

Escrevendo aos coríntios, São Paulo lembrava-lhes os atletas à conquista do prémio que só caberia ao mais veloz. Mas, se incitava à corrida, repartia cristãmente a vitória: «Não sabeis que os que correm no estádio correm todos, mas só um recebe o prémio? Correi, pois, assim, para o alcançardes. Os atletas impõem-se toda a espécie de privações: eles, para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa incorruptível» (1 Cor 9, 24-25).

Caríssimos irmãos, não desistamos de procurar o Senhor, correndo após Ele, para resumirmos a nossa vida do modo como o mesmo apóstolo resumiu a sua, pascalmente almejada: «Corro, para ver se o alcanço, já que fui alcançado por Cristo Jesus» (Fl 3, 12).

Aqui acorremos nós, em manhã de Páscoa, cada um por si ou com os seus, na Igreja de todos. Não deparamos com um espaço vazio, como aconteceu com os dois discípulos; mas, como eles, só podemos verificar os sinais duma existência que ultrapassa muito o que os nossos olhos geralmente captam.

Finalmente, como o discípulo predileto, “vemos e acreditamos”, ou seja, nos sinais da ausência entrevemos uma presença, precisamente a de Cristo, que preenche e transcende todos os vazios do mundo. E assim a ausência se transforma em oportunidade, para um vazio preenchido.

Fala-se do “discípulo predileto”, nome onde cabemos bem, preferindo Cristo a todos sem exceção. Mas tal predileção também há de ser nossa por Cristo, para mais rapidamente O reconhecermos, com a prontidão dum amor sem despiste.

Quando a pessoa de Jesus Cristo, como os Evangelhos no-lo descrevem e transmitem, é motivo constante da nossa lembrança e meditação, vai-nos preenchendo de tal modo a visão interior e contemplativa que mais facilmente se projeta em todo o espaço e circunstância.  Pois é bem dentro que desponta a luz...

Assim o podemos verificar em todos quantos experimentaram e exercitaram nas suas vidas a predileção de Jesus e a predileção por Jesus. E na relação viva com Ele, ressuscitam para um outro modo de viver, que já começa a ser divino (cf. 2 Pe 1, 4).

Um outro modo de viver, que é também outra maneira de ver. Com os colossenses, que facilmente divagavam em especulações ou coisas acessórias, Paulo insiste: «Tudo isto não é mais que uma sombra das coisas que hão de vir; a realidade é Cristo!» (Cl 2, 17).

Cristo em si mesmo, como se desprende da letra evangélica ou se recebe nas “espécies” eucarísticas. Cristo nos outros, como tantos o divisaram e ouviram no rosto e no clamor dos pobres, espaços “vazios” que só o amor preencherá – e urgentemente deve preencher.

Oiçamos Francisco de Assis, logo a abrir o seu Testamento: «Deus, nosso Senhor, quis dar a sua graça a mim, o irmão Francisco, para que eu começasse a fazer penitência; porque quando eu estava em pecados, parecia-me muito amargo dar com os olhos nos leprosos; mas o mesmo Senhor, um dia, me conduziu ao meio deles e com eles usei de misericórdia. E ao afastar-me deles, o que antes me parecera amargo, converteu-se para mim em doçura de alma e corpo».

De Camilo de Lélis, padroeiro dos doentes, dos moribundos e dos que os tratam, conta um seu companheiro: «Via nos enfermos a pessoa de Cristo com tão sentida emoção que muitas vezes quando lhes dava de comer, considerando-os em sua alma como seus “cristos”, chegava a pedir-lhes a graça e o perdão dos pecados. Por isso estava diante deles com tanto respeito como se estivesse realmente na presença do próprio Senhor» (Liturgia das Horas, 14 de julho).

E, podendo a multidão ser um deserto, também foi num comboio apinhado que Teresa de Calcutá “ouviu” Jesus, como ela própria contou: «Foi naquele comboio que [a 10 de setembro de 1946] ouvi um chamamento para abandonar tudo e O seguir para os bairros da lata – para O servir nos mais pobres de entre os pobres. […] Percebi que era a sua vontade e que tinha de O seguir. Não havia dúvida alguma de que seria uma obra dele» (Vem, se a minha luz, p. 57).

Irmãos e irmãs, nesta alegre e sofrida Páscoa de 2013: Como o “discípulo predileto”, acreditemos na presença do Ressuscitado, que nos espera nos vazios do mundo. À luz pascal, o aparente vazio é apenas espaço oferecido à nossa resposta crente. Tiremos toda a consequência prática da celebração que jubilosamente fazemos.



Sé do Porto, 31 de março de 2013

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Silvia Cardoso - A aventureira de Deus


Na publicação de ontem referimos a portuguesa Sílvia Cardoso cuja vida e obra foram reconhecidas pelo Vaticano, mais precisamente pela congregação para a causa dos santos. Este reconhecimento foi difundido amplamente nos meios de comunicação social e transcrevemos aqui um texto que encontramos num blog (http://schoenstatt50aveiro.blogspot.pt/) e sugerimos, portanto, a sua leitura que é um extrato do livro: Um sim decisivo do Padre Miguel Lencastre, sobrinho de Silvia Cardoso:




Em casa de Miguel (Lencastre), vivia uma irmã de sua mãe, D. Sílvia Cardoso, nascida em 26 de Julho de 1882 e falecida em 2 de Novembro de 1950. Essa tia, irmã mais velha de D. Maria Haydée, nunca casou porque o noivo faleceu durante os preparativos do enlace, no ano de 1913. Esse facto terá sido determinante para a mudança de rumo que a sua vida levou.

Em 1917, participa num retiro em Tuy, onde descobre o plano de Deus para si: prestar assistência às crianças pobres e doentes. A partir daí, dedica-se de alma e coração ao apostolado, a tal ponto que, em 1918, adoece com a febre pneumónica. Nesse ano, perde vários membros da sua família nesta terrível pandemia, entre os quais o seu pai, D. Manuel Umbelino. D. Sílvia sobrevive, o que era uma raridade na época, uma vez que ainda não tinha sido descoberta a cura para esta doença. Mal se estabelece, regressa incansável ao seu mister de serviço aos outros, sempre impelida pelo seu profundo amor a Deus.

Na sua biografia, Sílvia Cardoso, a Aventureira de Deus, o anjo das três loucuras, da autoria do padre Moreira das Neves, podemos ler o seguinte: "Sempre trazia consigo uma espécie de saco onde tudo cabia: rosários e devocionários, medalhas e folhetos, peças de roupa que vestiriam os pobres, crucifixos que seriam a última âncora de moribundos. porque não se demorava muito no mesmo lugar, precisava daquele alforge para as suas explorações de andarilha de Deus. Era o alforge da caridade que enchia aqui e além, conforme calhava, e ia esvaziar-se junto das camas dos hospitais, nas creches, nos patronatos, nas celas das prisões, nas salas de catequese, nos armazéns onde houvesse empregadas que precisassem de auxílio. Os pobres faziam parte da sua vida".

D. Sílvia Cardoso amava as crianças e tinha um dom muito especial para "ver" nelas para além do visível. Assim descobriu muitas vocações que encaminhava para o seminário e que patrocinava quando as famílias dos futuros padres não tinham meios para os ajudar.
Ora, em Paço de Ferreira morava uma família de poucos recursos, cujo agregado era constituído pelos pais e cerca de 20 filhos. O pai trabalhava na fábrica de móveis e a mãe fazia trabalho para fora para ajudar no sustento da casa. No curtíssimo tempo que as lides domésticas lhe deixavam livre, dedicava-se a senhora a fazer crossa, que é uma espécie de capote de palha, que serve para abrigar da chuva e do frio. Os filhos também começavam a trabalhar desde tenra idade, para complementar a economia doméstica.

No mês de Agosto de 1943, um deles, de seu nome António, na altura com 12 anos de idade, quando se dirigia para a fábrica onde trabalhava, ao passar em frente ao portão da Casa da Torre, que era o solar da família Lencastre, vê uma bica de água e como tem sede, entra e vai beber. Por casualidade ou por desígnio da providência Divina, D. Sílvia vinha a descer e cruza-se com o António. Entabula diálogo com ele e, a certa altura, pergunta-lhe: "Olha lá, não queres ser padre?" (ele tinha uma cara angelica); e o António responde-lhe naturalmente: "Olhe, nunca pensei nisso, mas além disso os meus pais são muito pobres, não têm dinheiro."
D. Sílvia apressa-se a retorquir: "Vai, fala com os teus pais e se quiseres vem, que o resto eu arranjo."

A família de António Lobo era, também, muito religiosa e, segundo consta, a mãe sempre rezou para que Deus lhe desse a suprema alegria de escolher de entre os seus numerosos filhos um que abraçasse o sacerdócio.

Passados uns dois dias, aparecem em casa da família Lencastre o António e sua mãe, Maria.
Não era a primeira vez que D. Sílvia "adivinhava" a vocação para o sacerdócio de vários rapazes encaminhando-os, em seguida, para a arquidiocese de Évora, pois aí tinha uma base do seu apostolado.

(do livro "Um sim decisivo", pag.37-38)

Nota: D. Silvia morreu antes da ordenação sacerdotal do P. António Lobo, o primeiro português do Instituto dos Padres de Schoenstatt

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Mártires a caminho dos altares





Citando uma publicação de 28 de Março da Agência Ecclesia:


O Papa Francisco aprovou a publicação dos decretos que reconhecem o martírio de 62 católicos, assassinados no século XX por causa da sua fé, revelou hoje o Vaticano.

Esta é uma etapa do processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade.

Os decretos incluem o reconhecimento das ‘virtudes heroicas’ da portuguesa Sílvia Cardoso Ferreira da Silva (1882-1950), que se distinguiu em atividades de caráter social.

Os martírios confirmados pelo Vaticano incluem 58 religiosos mortos durante a Guerra Civil de Espanha, entre 1936 e 1938.

Os outros quatro casos aconteceram durante a II Guerra Mundial, no campo de Dachau, Alemanha (1945), e na Itália (1945); e durante os regimes comunistas na Roménia (1954) e Hungria (1953).

O Papa reconheceu ainda um milagre atribuído à intercessão de uma religiosa alemã, Maria Teresa Bonzel (1830-1905) e outros seis decretos sobre “virtudes heroicas” de cinco padres e um religioso.

A canonização, ato reservado ao Papa desde o século XIII, é a confirmação, por parte da Igreja Católica, que um fiel católico é digno de culto público universal e de ser apresentado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.

Nos primeiros séculos da Igreja, o reconhecimento da santidade acontecia em âmbito local, a partir da fama popular do santo e com a aprovação dos bispos.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Efeméride: João Paulo II morreu há oito anos




O Beato João Paulo II morreu há oito anos, no Vaticano, após um pontificado de 26 anos e meio, e o seu processo de canonização está agora dependente do reconhecimento oficial de um novo milagre.

O Papa polaco foi proclamado beato por Bento XVI a 1 de maio de 2011, na Praça de São Pedro.

A penúltima etapa para a declaração da santidade, na Igreja Católica, concluiu uma primeira fase de trabalhos, iniciada em maio de 2005.

De acordo com o direito canónico, para a canonização é necessário um milagre atribuível à intercessão de João Paulo II a partir da data da beatificação.

Concluídas estão, em definitivo, as investigações sobre as chamadas “fama de santidade” e “virtudes heroicas” de Karol Jozef Wojtyla, que nasceu em Wadowice (Polónia), a 18 de maio de 1920, e foi eleito Papa em outubro de 1978.

Entre os seus principais documentos, contam-se 14 encíclicas, 15 exortações apostólicas, 11 constituições apostólicas e 45 cartas apostólicas; realizou 104 viagens internacionais, incluindo três visitas a Portugal, em 1982, 1991 e 2000.

O responsável pelo processo de canonização, padre Slawomir Oder, afirmou em entrevista ao jornal espanhol ‘La Razón’ que este se encontra na sua “última fase”, após ter apresentado um milagre atribuído à intercessão de João Paulo entre os muitos casos “assinalados”.

O sacerdote polaco revela ainda que já entregou “toda a documentação” do processo à Congregação para as Causas dos Santos (CCS), da qual depende agora o desenvolvimento do processo.

A cura apresentada à CCS é submetida ao exame dos médicos que colaboram com o dicastério da Santa Sé, para se avaliar a sua “inexplicabilidade científica”, e é posteriormente analisada por consultores teólogos.

A canonização é a confirmação, por parte da Igreja, de que um fiel católico é digno de culto público universal e de ser dado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade (fonte Agência Ecclesia)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Mensagem de Páscoa do Cardeal Patriarca



Hoje transcrevemos as palavras do nosso cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo (fonte: Agência Ecclesia), na sua homilia de Páscoa:




“A Ressurreição de Jesus e a surpresa da vida”

1. A Páscoa é a festa da vida. Esta é a maravilha da criação, encerra toda a beleza, é o desafio de todas as descobertas, a semente do horizonte que se abre sempre de novo em busca da sua plenitude. É na nossa experiência de seres vivos que podemos descobrir Deus, o Vivo e fonte da vida. O respeito pela vida é o pilar decisivo de toda a civilização.

A ressurreição de Jesus foi surpresa, mesmo para os seus amigos mais próximos, porque a plenitude da vida exprimiu-se na vitória sobre a morte, que em termos humanos, aparece como o fim da vida, a negação da vida. Afinal, a vida venceu a morte.

A ressurreição de Jesus é a plenitude do mistério da encarnação. Quem ressuscitou foi o Homem, Jesus de Nazaré. Aquela vida nova, desconhecida e misteriosa, é uma vida humana, do Filho de Deus feito Homem, para garantir a todos os homens, seus irmãos, que o triunfo da vida é possível. Tendo-se unido a todos os homens, a sua ressurreição encerra a promessa do maior anseio da humanidade: viver sempre, aprofundar a experiência da vida. Quem se uniu a Cristo nunca desiste de viver, nada o trava no anseio da vida em plenitude.



2. A ressurreição de Cristo encerra o segredo da vida, comunica-nos uma pedagogia da vida. Ela revela-nos que é preciso fazer da vida um dom, para a descobrir e alcançar. A generosidade do dom é a essência do amor e o segredo da vida. Aprofundar a vida é indesligável do amor. Do seu triunfo sobre o sofrimento e a morte, recebemos força para fazer da nossa existência um dom. Todas as causas generosas para o bem da humanidade recebem dessa fonte a coragem da generosidade. A ressurreição de Cristo continua a ser uma força decisiva para o triunfo do homem.

A beleza da vida está impressa na criação como dinamismo fundamental.

Basta contemplar o êxtase da mãe que dá à luz um filho, ou a exultação de um amor sincero que dá sentido a toda a existência e a inunda de felicidade. Esta está sempre ligada à fruição da vida. A vida sente-se quando se descobre a vida do outro. A alegria da vida é sempre a alegria do amor. A ressurreição de Cristo dá perenidade a estas experiências belas da natureza, que sem a ligação à vida, corremos o risco de deixar esmorecer ou mesmo atraiçoar. É como se a vida se desmoronasse sob os escombros da infidelidade humana. Percebe-se porque é que Jesus pregou aos discípulos com tanta insistência: “Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei” (Jo. 13, 34).

A nossa fragilidade continua e a sua concretização mais grave é atraiçoar a vida, desistir da vida. É o pregão do Apóstolo Paulo aos Coríntios: “Celebremos a festa, não com fermento velho, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com os pães ázimos da pureza e da verdade” (1Co. 5,8). Unidos à ressurreição de Cristo, a nossa vida transforma-se progressivamente na força que nos aguenta, na alegria de viver, fazendo viver, descobrindo sempre novas manifestações desse dom supremo de Deus.

Vivemos num tempo em que se fez da qualidade de vida um valor a conseguir.

Mas não haverá qualidade de vida se reduzirmos esta ao bem estar material. Ela só se consegue com um coração aberto à surpresa da ressurreição. Nela é-nos revelada a fonte da vida, o amor de Deus pelo Seu Filho Jesus Cristo, amor que envolve todos os homens nossos irmãos.

Nesta Páscoa façamos como o Apóstolo João: aos primeiros sinais da morte vencida, acreditou. Esta nova manifestação da vida surpreendeu-os; deixemo-nos surpreender pela Vida.

Sé Patriarcal, 31 de março de 2013