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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Domingo com Papa Francisco

Hoje, domingo, transcrevemos um texto publicado na Agência Ecclesia sobre a habitual despedida do Papa Francisco: "bom domingo e bom almoço", da autoria de José Tolentino Mendonça

É com esta frase que o Papa Francisco se despede dos fiéis reunidos para o Angelus em cada domingo. É uma expressão inabitual, há que reconhecer. O que os pontífices anteriores se concediam era, quanto muito, um aceno de mão a mais ou um sorriso que se abria. Naquela janela do Palácio Apostólico, tanto João Paulo II como Bento XVI, só para falar dos mais recentes, mostraram-se sem véus, é verdade. Basta lembrar o lento e dolente calvário do Papa Wojtyla que fazia alguns comentadores perguntarem se não seria demais a exposição de tamanho sofrimento. Ou os últimos Angelus do Papa Ratzinger, antes e depois da grande renúncia. Para quem quisesse ver estava tudo ali. E a forma de comunicação não era nem melhor nem pior: era simplesmente diferente. Mas o que toca tanta gente no estilo do Papa Francisco é esta capacidade, que parece fácil mas é muito rara, de avizinhar-se, de revelar-se familiar, de expressar uma atenção concreta pelos outros. Traduzida por ele, a pastoral deixa de ser uma ciência abstracta, feita de gráficos e organigramas. Deixa de reger-se por categorizações e manuais. É evangélica, instintiva e inclusiva; torna-se uma arte que o coração conhece (e reconhece). É um pacto de confiança que aceita  a necessidade permanente de refazer-se.  É um passar da soleira formal onde tantas vezes a evangelização, infelizmente, se detém. Jesus enviou os seus discípulos dizendo-lhes que entrassem nas casas, que se sentassem à mesa, que comessem e bebessem do que lhes fosse servido (Lc 10,8). Nessa comunhão de mesa e de destino realiza-se uma das viagens mais surpreendentes que se pode fazer, em qualquer tempo e em qualquer civilização: o transcender daquele espaço que separa os outros dos nossos; o atravessar dos  obstáculos que dividem o mundo entre estranhos e familiares. Quando ouvimos o Papa Francisco desejar “bom domingo e bom almoço” não é apenas uma forma tipificada de cortesia.  É mais do que isso. É muito mais.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Novo Bispo do Porto - mensagem aos diocesanos

Transcrevemos a mensagem do novo Bispo do Porto, conhecido hoje 21 de Fevereiro de 2014, D. António Francisco dos Santos. 

Antes da transcrição, deixamos um obrigado a D. Pio Alves que com o seu carisma, simpatia, simplicidade e saber tocar no coração do outro (entre outros aspectos), deixa a sua marca na nossa Diocese do Porto.

A D. António dizemos: PRESENTE! Aqui nos tem e, em nome de Montebelo (paróquia do Bonfim), faço o convite para conhecer a não só a nossa Capela, mas também a nossa Comunidade.



Caros Diocesanos,

Era tão imprevisível este chamamento que Deus agora me faz que não consegui balbuciar palavra, quando a decisão do Papa Francisco me foi comunicada.

Sei que é ao Santo Padre, como Bispo de Roma e Pastor Universal da Igreja, que compete dar Pastores a todas as Igrejas. Lembrei nesse momento a Palavra de Deus ao Profeta Jeremias: “Irás aonde Eu te enviar” (Jer 1,7).

Apesar desta palavra recorrente ao meu espírito e presente no meu coração, muitas as dúvidas e grande o temor com que me defrontei ao ver as minhas limitações e fragilidades, perante a grandeza da missão.

Interroguei-me dia e noite sobre o que posso eu levar de novo a uma Diocese habitada por tanta gente de bem e de valor e habituada a tão generosos servidores como bispos, presbíteros, diáconos, consagrados e leigos.

À Diocese de Aveiro peço a compreensão para este meu gesto ao serviço da Igreja, que em nada significa, menos respeito ou menor amor. Aveiro sabe como sempre aqui me senti feliz como bispo e como é grande a dor da separação.

Todavia, senti que só conseguiria reencontrar a serenidade de coração e a liberdade de espírito, quando com a ajuda de Deus vencesse todos os receios e temores.

Levo comigo o modo próximo de ser e de viver, a alegria convicta da fé e o desejo fraterno de a todos olhar com os olhos de Deus, para a todos servir como Deus quer e ama.

IN MANUS TUAS é o lema episcopal que escolhi, quando o Papa João Paulo II, me chamou a ser bispo auxiliar de Braga e titular de Meinedo. Renovei este mesmo compromisso diante do Papa Bento XVI quando me enviou para Aveiro. É com igual verdade que agora o afirmo diante do Papa Francisco. Este lema e os sentimentos que ele exprime unem-me a Cristo e à Sua Cruz e colocam-me sob o olhar terno da Mãe de Jesus, Senhora da Assunção, nossa Mãe e Padroeira.

Saúdo, como irmão que sempre serei, o senhor Administrador Apostólico, D. Pio Alves, os senhores Bispos Auxiliares, D. António Taipa e D. João Lavrador, os senhores Bispos Eméritos, os senhores Vigários Gerais, o Cabido da Catedral, os Sacerdotes, Seminários, Diáconos, Consagrados e Leigos.

Desde já afirmo a alegria de servir a grande comunidade humana da Diocese do Porto, com os seus eleitos e representantes autárquicos, as Autoridades Locais, as Universidades e Escolas, Instituições e Associações.

Quero dirigir uma palavra de muito afeto às crianças, aos jovens e às famílias.

Serei irmão e presença junto dos doentes, dos pobres e dos que sofrem e com eles procurarei fazer caminho de bondade e de esperança na busca comum de um mundo melhor.

Quero ser apóstolo das Bem-Aventuranças nestes tempos difíceis que vivemos.

Sei que é grande a missão que agora me é confiada, mas vou com alegria e generosidade ao vosso encontro para amar a Deus e vos servir.

Alegra-me e conforta-me ser irmão convosco, tão belo é o testemunho cristão da Igreja do Porto.

Que Deus me ajude e vos abençoe.

Abençoai-me, também vós, caros diocesanos.

Aveiro, 21 de fevereiro de 2014
D. António Francisco dos Santos, bispo eleito do Porto

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Dia mundial do doente

Como amanhã se celebra o dia do doente, transcrevemos aqui a mensagem do Santo Padre, Papa Francisco, para ler, meditar e agir! Teremos uma celebração na nossa Capela no dia 11, às 21:30h





Amados irmãos e irmãs!


1. Por ocasião do XXII Dia Mundial do Doente, que este ano tem como tema Fé e caridade: também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos» (1 Jo 3, 16), dirijo-me de modo particular às pessoas doentes e a quantos lhes prestam assistência e cura. A Igreja reconhece em vós, queridos doentes, uma presença especial de Cristo sofredor. É assim: ao lado, aliás, dentro do nosso sofrimento está o de Jesus, que carrega connosco o seu peso e revela o seu sentido. Quando o Filho de Deus subiu à cruz destruiu a solidão do sofrimento e iluminou a sua escuridão. Desta forma somos postos diante do mistério do amor de Deus por nós, que nos infunde esperança e coragem: esperança, porque no desígnio de amor de Deus também a noite do sofrimento se abre à luz pascal; e coragem, para enfrentar qualquer adversidade em sua companhia, unidos a Ele.



2. O Filho de Deus feito homem não privou a experiência humana da doença e do sofrimento mas, assumindo-os em si, transformou-os e reduziu-os. Reduzidas porque já não têm a última palavra, que é ao contrário a vida nova em plenitude; transformados, porque em união com Cristo, de negativas podem tornar-se positivas. Jesus é o caminho, e com o seu Espírito podemos segui-lo. Como o Pai doou o Filho por amor, e o Filho se doou a si mesmo pelo mesmo amor, também nós podemos amar os outros como Deus nos amou, dando a vida pelos irmãos. A fé no Deus bom torna-se bondade, a fé em Cristo Crucificado torna-se força para amar até ao fim também os inimigos. A prova da fé autêntica em Cristo é o dom de si, o difundir-se do amor ao próximo, sobretudo por quem não o merece, por quantos sofrem, por quem é marginalizado.


3. Em virtude do Baptismo e da Confirmação somos chamados a conformar-nos com Cristo, Bom Samaritano de todos os sofredores. «Nisto conhecemos o amor: no facto de que Ele deu a sua vida por nós; portanto, também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos» (1 Jo 3, 16). Quando nos aproximamos com ternura daqueles que precisam de cura, levamos a esperança e o sorriso de Deus às contradições do mundo. Quando a dedicação generosa aos demais se torna estilo das nossas acções, damos lugar ao Coração de Cristo e por Ele somos aquecidos, oferecendo assim a nossa contribuição para o advento do Reino de Deus.


4. Para crescer na ternura, na caridade respeitadora e delicada, temos um modelo cristão para o qual dirigir o olhar com segurança. É a Mãe de Jesus e nossa Mãe, atenta à voz de Deus e às necessidades e dificuldades dos seus filhos. Maria, estimulada pela misericórdia divina que nela se faz carne, esquece-se de si mesma e encaminha-se à pressa da Galileia para a Judeia a fim de encontrar e ajudar a sua prima Isabel; intercede junto do seu Filho nas bodas de Caná, quando falta o vinho da festa; leva no seu coração, ao longo da peregrinação da vida, as palavras do velho Simeão que lhe prenunciam uma espada que trespassará a sua alma, e com fortaleza permanece aos pés da Cruz de Jesus. Ela sabe como se percorre este caminho e por isso é a Mãe de todos os doentes e sofredores. A ela podemos recorrer confiantes com devoção filial, certos de que nos assistirá e não nos abandonará. É a Mãe do Crucificado Ressuscitado: permanece ao lado das nossas cruzes e acompanha-nos no caminho rumo à ressurreição e à vida plena.


5. São João, o discípulo que estava com Maria aos pés da Cruz, faz-nos ir às nascentes da fé e da caridade, ao coração de Deus que «é amor» (1 Jo 4, 8.16), e recorda-nos que não podemos amar a Deus se não amarmos os irmãos. Quem está aos pés da Cruz com Maria, aprende a amar como Jesus. A Cruz «é a certeza do amor fiel de Deus por nós. Um amor tão grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos confere a força para o carregar, entra também na morte para a vencer e nos salvar... A Cruz de Cristo convida-nos também a deixar-nos contagiar por este amor, ensina-nos a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo para quem sofre, para quem tem necessidade de ajuda» (Via-Sacra com os jovens, Rio de Janeiro, 26 de Julho de 2013).


Confio este XXII Dia Mundial do Doente à intercessão de Maria, para que ajude as pessoas doentes a viver o próprio sofrimento em comunhão com Jesus Cristo, e ampare quantos deles se ocupam. A todos, doentes, agentes no campo da saúde e voluntários, concedo de coração a Bênção Apostólica.

Vaticano, 6 de Dezembro de 2013.



FRANCISCO

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Lei moral, lei dos homens...lei natural

Hoje trazemos mais um texto da Agência Ecclesia, desta vez da autoria de Octávio Carmo que nos recorda uma citação de Bento XVI que já tem 7 anos, mas que se mantém actual.



“A lei natural é a nascente de onde brotam, juntamente com os direitos fundamentais, também imperativos éticos que é necessário respeitar. (…)
A legislação torna-se com frequência apenas um compromisso entre diversos interesses: procuram-se transformar em direitos interesses particulares ou desejos que contrastam com os deveres derivantes da responsabilidade social”.
Bento XVI, 12.02.2007

O discurso já não é novo, mas a lição magistral que o agora Papa emérito deixou há quase sete anos sobre a relevância da lei moral natural está longe de perder a atualidade, mormente num momento em que o país discute um eventual referendo sobre a adoção e coadoção nos casos de uniões do mesmo sexo. Bento XVI retoma uma argumentação que poderia estar mais presente nas posições assumidas por quem de direito, em nome da Igreja Católica.

Por norma, as intervenções dos responsáveis eclesiais sobre estas questões são “guetizadas” ou “rotuladas”, normalmente com a justificação de que estamos perante opiniões que nascem de convicções religiosas e que o Estado tem de legislar a partir de outros pressupostos.

(Mantenho, a este respeito, uma preocupação sobre o que se entende por liberdade religiosa - não estamos a falar de uma liberdade de culto, privada, mas de um conjunto de condições jurídicas que se estendem à educação, ao direito de associação, à profissão pública da fé, com consequências na vida concreta e no comportamento, na organização da vida social. Respeitar a consciência é respeitar as suas escolhas e convicções, também do ponto de vista religioso).

A Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa a propósito da ideologia do género antecipava algumas das questões que estão agora a dominar o debate parlamentar, mas é justo dizer que não basta um documento, por mais explícito que seja, para deixar tornar relevante (e iluminadora) a posição da Igreja a este respeito, a partir do chão comum de humanidade e civilização que a une a outros, independentemente das suas convicções religiosas.

Como vimos com a trágica crise dos últimos anos, acima da dignidade humana têm estado valores económicos, jogos políticos e interesses particulares.

Recordando Bento XVI, mais uma vez, fazem-se votos de que a Igreja Católica em Portugal ajude a recordar o “valor inalienável que a lei natural possui, para um progresso real e coerente da vida pessoal e da ordem social”.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Dia Mundial das Comunicações Sociais

Hoje transcrevemos parte do editorial da Agência Ecclesia por Paulo Rocha, no seguimento da primeira publicação de uma mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais.



O Papa Francisco publicou a sua primeira Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Como noutras circunstâncias, insiste nos valores e atitudes que têm marcado o seu pontificado: encontro, proximidade, ternura, periferias, diálogo.

Ao olhar os desenvolvimentos tecnológicos e a presença da Igreja, das mensagens do Evangelho nas redes digitais, Francisco inscreve de imediato a marca da humanidade em ambientes que são muito mais do que virtuais. As redes digitais são um “lugar rico de humanidade”. O Papa é firme ao sentenciar que todo esse “continente” não pode ser considerado apenas uma “rede de fios”, mas uma rede “de pessoas humanas”.

É sugestiva na mensagem do Papa a analogia entre a parábola do Bom Samaritano e a comunicação. Para Francisco, a história que Jesus conta depois do escriba lhe perguntar “quem é o meu próximo” ilustra o conceito de proximidade, traduzindo a capacidade de uma pessoa se tornar semelhante ao outro. Tanto dos que estão na periferia da estrada, feridos, como os que percorrem as “estradas digitais”, “congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida”.

“Quem comunica faz-se próximo”. De que forma? De novo, como na parábola: “não se trata de reconhecer o outro como um meu semelhante, mas da minha capacidade para me fazer semelhante ao outro”.

É por causa deste programa que a comunicação não pode permanecer na lista dos assuntos “pendente”, ou considerados “a tratar” nas sobras do tempo das instituições, também da Igreja Católica.

Na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa pede “energias frescas” e “imaginação nova” para transmitir mediaticamente a “beleza de Deus”.