Hoje, domingo, transcrevemos um texto publicado na Agência Ecclesia sobre a habitual despedida do Papa Francisco: "bom domingo e bom almoço", da autoria de José Tolentino Mendonça
É com esta frase que o Papa Francisco se despede dos fiéis reunidos para o Angelus em
cada domingo. É uma expressão inabitual, há que reconhecer. O que os
pontífices anteriores se concediam era, quanto muito, um aceno de mão a
mais ou um sorriso que se abria. Naquela janela do Palácio Apostólico,
tanto João Paulo II como Bento XVI, só para falar dos mais recentes,
mostraram-se sem véus, é verdade. Basta lembrar o lento e dolente
calvário do Papa Wojtyla que fazia alguns comentadores perguntarem se
não seria demais a exposição de tamanho sofrimento. Ou os últimos Angelus do
Papa Ratzinger, antes e depois da grande renúncia. Para quem quisesse
ver estava tudo ali. E a forma de comunicação não era nem melhor nem
pior: era simplesmente diferente. Mas o que toca tanta gente no estilo
do Papa Francisco é esta capacidade, que parece fácil mas é muito rara,
de avizinhar-se, de revelar-se familiar, de expressar uma atenção
concreta pelos outros. Traduzida por ele, a pastoral deixa de ser uma
ciência abstracta, feita de gráficos e organigramas. Deixa de reger-se
por categorizações e manuais. É evangélica, instintiva e inclusiva;
torna-se uma arte que o coração conhece (e reconhece). É um pacto de
confiança que aceita a necessidade permanente de refazer-se. É um
passar da soleira formal onde tantas vezes a evangelização,
infelizmente, se detém. Jesus enviou os seus discípulos dizendo-lhes que
entrassem nas casas, que se sentassem à mesa, que comessem e bebessem
do que lhes fosse servido (Lc 10,8). Nessa comunhão de mesa e de destino
realiza-se uma das viagens mais surpreendentes que se pode fazer, em
qualquer tempo e em qualquer civilização: o transcender daquele espaço
que separa os outros dos nossos; o atravessar dos obstáculos que
dividem o mundo entre estranhos e familiares. Quando ouvimos o Papa
Francisco desejar “bom domingo e bom almoço” não é apenas uma forma
tipificada de cortesia. É mais do que isso. É muito mais.
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