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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Homilia - Abertura do ano pastoral

Hoje transcrevemos a homilia do Bispo do Porto, aquando da abertura do ano pastoral:



1. Acompanha-me nesta hora de abertura solene do novo Ano Pastoral na nossa Diocese a bela saudação de S. Paulo aos cristãos de Roma: “Graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo” (Rom.1,7).
S. Paulo diz aos romanos que pelo Evangelho foi chamado a ser apóstolo e diz-nos a nós que os cristãos de Roma foram igualmente chamados pelo mesmo Evangelho a “serem de Cristo”.

A vocação do apóstolo é modelo da vocação dos cristãos. Mas a vocação do apóstolo é mais do que modelo. É missão. Foi pela missão que S. Paulo se tornou testemunha qualificada da alegria do Evangelho

Nas cartas, na vida, nas viagens, no trabalho de S. Paulo escreve-se a vida e afirma-se a missão da Igreja. Assim se escreveram, igualmente, os Atos dos Apóstolos, que nos falam da beleza e do encanto da Igreja nascente.

Também nesta hora se escreve mais uma página da vida da Igreja do Porto, escrita ao jeito de S. Paulo, com alegria, com entusiasmo e com esperança.

Abre-se, em dia da Dedicação da Igreja Catedral, para a nossa Diocese o novo caminho pastoral, que vamos percorrer ao longo deste ano. Temos o nosso olhar colocado no horizonte da celebração dos 150 anos do nosso Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição, no próximo dia 15 deste mês, e dos 900 anos da restauração da Diocese, em outubro próximo, e daí partiremos no rumo do futuro, com datas a recordar e com metas a percorrer.

2. O início de cada Ano Pastoral exige um olhar novo e projeta-nos para um horizonte diferente. Temos diante de nós um método de pedagogia pastoral, alicerçado na corresponsabilidade eclesial nos diversos níveis, âmbitos e instâncias, e uma meta definida, concreta e marcada no tempo. Um ano é uma breve etapa que nos vai permitir uma reflexão mais ampla a afirmar a nossa disponibilidade para realizarmos um esforço pastoral comum de maior alcance para que a Igreja do Porto consciente na fé, mobilizada no seu todo, fortalecida na comunhão e renovada na caridade seja sinal de esperança para o mundo.

Sabemo-nos todos necessários e queremo-nos todos envolvidos, cultivando formas, meios e oportunidades para viver de Cristo e anunciar em seu nome a alegria do Evangelho.
Queremos ser, como diz S. Paulo aos Coríntios: “uma carta de Cristo, ministrada por nós, escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas que são corações de carne”(2 Cor.3,3).

Convido-vos a ler e a escrever esta carta com o mesmo encanto com que se escreveram as páginas do início da Igreja no Porto, da restauração da Diocese, séculos depois, da sua organização pastoral, da construção dos seus Seminários e doutras necessárias estruturas pastorais, do testemunho vivo dos seus bispos, sacerdotes, diáconos, seminaristas e consagrados e da afirmação pública dos cristãos do Porto, conscientes da sua fé e da implicação do seu testemunho coerente de vida no viver da Cidade e do País.

Convoco-vos para a missão. Ao verem-nos disponíveis e generosos e ao sentirem-nos discípulos de Jesus, o Mestre e Senhor, outros se juntarão a nós, guiados pelo mesmo Espírito de Deus.

3. Escolhemos como lema para este Ano pastoral: “A alegria do evangelho é a nossa missão”. Inspira-nos nesta escolha a recente Exortação Apostólica do Papa Francisco: “A alegria do Evangelho”.

Desta Exortação Apostólica faremos texto e tema para a nossa formação, no decorrer do tempo, e orientação de atividades e iniciativas ao longo de todo o Ano pastoral, concretamente nas Caminhadas de Advento-Natal e de Quaresma-Páscoa, que em tempo oportuno apresentarei à Diocese.

Desde o início do meu ministério, no Porto, encontrei na Igreja, que Deus me enviou a servir, esta alegria do Evangelho, desenhada e esculpida na alma de uma Igreja com um belo e longo percurso histórico e mais recentemente impressa e expressa em inovadoras experiências pastorais, vividas a nível das pessoas, das paróquias, das vigararias, dos movimentos e das instituições, de que destaco: a Missão 2010, as Jornadas Vicariais da Fé e a celebração dos Dias diocesanos, a que acresce o dinamismo vicarial e paroquial sentido nas nossas Comunidades cristãs.

Um novo ano pastoral, e este em concreto, que é o primeiro que vivo convosco como bispo para vós e como irmão convosco, deve ter a esperança como motor e como força propulsora das atitudes a cultivar e dos programas a realizar nas várias vertentes pastorais. Queremos ser um Igreja onde as pessoas sintam o gosto de a ela pertencerem.

A esperança surge assim na Igreja diocesana como presença irradiante da renovação que se deseja e do serviço aos mais pobres que realizamos.

O serviço aos mais pobres exige atenção demorada e criativa. Implica proximidade e escuta. Necessita de persistência e de aprendizagem. Procura respostas novas para problemas diferentes e para pessoas concretas, únicas e irrepetíveis. É necessário ir ao coração dos problemas sociais para proteger os mais frágeis e promover a sua dignidade.

A pobreza não é uma fatalidade nem pode ser uma tirania a subjugar os mais frágeis ou desprotegidos. A Igreja do Porto nunca deixará esgotar na sua missão nem extinguir em cada um de nós a generosidade e a caridade ao serviço dos mais pobres.

Cada batizado, como sabemos, é responsável pela sorte do Evangelho em ordem a construir um mundo melhor. Deve viver esta responsabilidade e realizar esta missão integrado na comunidade cristã e possuindo o sentido da Igreja Diocesana.

Convido-vos, irmãos e irmãs, a viverdes este desafio prioritário que nos torne acolhedores, disponíveis e com espírito de comunhão nas paróquias, nas vigararias, nos secretariados, nos movimentos, nas instituições e na pastoral diocesana no seu todo.

4. Inicia-se no próximo dia 5 de outubro, em Roma, o Sínodo extraordinário dos Bispos sobre “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”. Teremos presente, ao longo de todo o ano, esta iniciativa do Papa Francisco e a sua intenção de dar centralidade à família, na oração e na missão da Igreja.

Vamos viver, igualmente, em comunhão com o Papa Francisco o Ano dedicado à Vida Consagrada. Queremos agradecer a Deus o dom das comunidades religiosas e da vida consagrada na nossa Diocese e dar mais visibilidade e atenção ao testemunho da vida consagrada.

Nunca perderemos na linha do horizonte desta viagem pastoral a prioridade a dar à pastoral vocacional que deve impregnar de espírito e de esperança toda a pastoral. Somos chamados, em Igreja, a sermos promotores das diferentes formas de realização vocacional, muito em especial das vocações sacerdotais e das vocações de consagração.

Partimos, irmãos sacerdotes, diáconos, seminaristas, consagrados e consagradas, leigos e leigas, catequistas, educadores, professores de Educação Moral e Religiosa Católica, agentes de pastoral nas diferentes vanguardas da missão pastoral para esta viagem feliz de um novo ano pastoral, dispostos a trabalhar como se tudo dependesse de nós e decididos a rezar, sabendo que tudo depende de Deus.

A palavra de Deus, hoje proclamada, ajuda-nos neste propósito pastoral que aqui se faz compromisso de missão e ilumina-nos no caminho que agora iniciamos.

Este é o templo do Senhor, de que nos falava a primeira leitura. Este templo é sinal de que Deus habita no meio do seu povo (Ez 43, 1-7). Sabemos todos que “o templo de Deus é santo e nós somos esse templo” (cf 1 Cor 3, 9-17). Igualmente expressivo é o texto do Evangelho que nos narra o encontro e o diálogo de Jesus com Zaqueu. Faz-nos bem ouvir de Jesus esta palavra, também dita para nós: “Hoje entrou a salvação nesta casa” (Lc 19, 1-10).

São muitos, aqueles que procuram Deus, porventura de forma tímida e de modo discreto. A todos somos enviados em missão, ao longo do ano que hoje começa, para que também neles Deus tenha o seu templo e para que Jesus entre em sua casa.

Procuremos ver Jesus. Caminhemos em frente. “Façamo-nos ao largo”, neste oceano imenso do mistério santo de Deus e da urgência do Absoluto. Demos prioridade à incessante procura do essencial na vida e na missão de todos nós bispos, sacerdotes, seminaristas, diáconos, religiosos e leigos.

5. Confio este Ano Pastoral e as realizações que nele vão decorrer à proteção terna de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da Catedral e da nossa Diocese.

É sob o seu olhar materna que a Diocese do Porto sempre caminhou ao longo da história. É sob a bênção constante deste mesmo olhar que vamos caminhar ao longo do novo Ano Pastoral, que hoje aqui se inicia. Feliz Ano Pastoral!

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