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quinta-feira, 28 de março de 2013

As palavras que tornaram Jorge Bergoglio no Papa Francisco


Hoje transcrevemos um texto do Jornal o Público sobre o Papa Francisco, sugerido pelo catequista Eduardo. O próprio artigo refere que o texto foi divulgado com autorização.





A defesa de uma Igreja Católica que saia de “si própria” para ir até às periferias, não apenas geográficas mas também existenciais, foi uma ideia central da intervenção do cardeal argentino Jorge Maria Bergoglio nas congregações gerais, as reuniões preparatórias do conclave, que terá sido determinante para a escolha como Papa.

As intervenções são normalmente secretas, mas a de Bergoglio foi esta semana revelada pelo cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, que assim pretendeu revelar aos fiéis cubanos o pensamento do Papa Francisco. Lido por Ortega, o texto foi entregue pelo ainda cardeal ao colega, após ter sido proferido em Roma. Foi divulgado com autorização do líder católico e está publicado no site da Igreja cubana (iglesiacubana.org).

Também são já conhecidas as palavras usadas pelo cardeal argentino, no dia em que foi escolhido, 13 de Março, quando lhe foi perguntado, na Capela Sistina, se aceitava a escolha. "Eu sou um grande pecador, confiando na misericórdia e paciência de Deus, no sofrimento, aceito", disse, segundo a agência especializada em assuntos do Vaticano I-Media (http://www.imedia-info.org/depeches/).

A revelação foi feita pelo arcipreste da basílica de São Pedo, cardeal Angelo Comastri, que participou no conclave, num documentário sobre a transição papal realizado pelo Centro Televisivo do Vaticano, que é lançado na terça-feira em Itália, em formato DVD.

Transcrição do manuscrito lido pelo Jorge Bergoglio aos outros cardeais:

1.Evangelizar supõe zelo apostólico. Evangelizar supõe para a Igreja a audácia de sair de si própria. A Igreja é chamada a sair de si própria para ir até às periferias, não apenas geográficas, mas também das periferias existenciais: as do mistério do pecado, as da dor, as da injustiça, as da ignorância e da abstenção religiosa, as do pensamento, as de toda a miséria.

2.Quando a Igreja não sai de si própria para evangelizar, torna-se auto-referencial e fica doente (cfr. A mulher curvada sobre si própria do Evangelho). Os males que, ao longo do tempo, se dão nas instituições eclesiásticas têm raiz de auto-referencialidade, uma espécie de narcisismo teológico.
No Apocalipse, Jesus diz que está à porta e chama. Evidentemente, o texto refere-se ao que chama desde fora para entrar. Mas penso nas vezes em que Jesus bate desde o interior para que o deixemos sair. A Igreja auto-referencial pretende Jesus Cristo dentro de si e não o deixa sair.

3. A Igreja, quando é auto-referencial, sem se dar conta, crê que tem luz própria. Ela deixa de ser o mysterium lunae, e da lugar a esse mal tão grave que é a mundanidade espiritual (segundo Lubac [Henri de Lubac, cardeal jesuíta francês], o pior mal que pode acontecer à Igreja). É viver para glorificar uns aos outros.
Simplificando, há duas imagens da Igreja: a Igreja evangelizadora que sai de si própria, a Dei verbum religiose audiens et fidenter proclamans; ou a Igreja mundana que vive em si própria, de si própria e para si própria.
Isto deve dar luz aos possíveis caminhos e reformas que já que fazer para a salvação das almas.

4. Pensado no próximo Papa: um homem que, a partir da contemplação de Jesus Cristo e da adoração de Jesus Cristo ajude a Igreja a sair de si própria para as periferias existenciais, que a ajude a ser a mão fecunda que vive “da doce e reconfortante alegria da evangelização”.

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