Apesar do título desta publicação, ela não se refere a S. Pedro, o apóstolo que costuma ser representado com um molho de chaves...do céu.
Hoje, uma vez mais, transcrevemos uma mensagem da Agência Ecclesia - desta vez da autoria de João Aguiar Campos, do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais
Sou do tempo em que os pregadores, em sermões debitados do púlpito,
recorriam a breves parábolas ou estórias para ilustrarem a doutrina. Na
mesma época, os livros de devoções para o Mês de Maio, Mês do Coração de
Jesus, Mês do Rosário ou Mês das Almas – tal como para uma qualquer
novena – não prescindiam, no final de cada meditação diária, de
apresentar um “Exemplo”.
Foi esse modo de ensinar que me abriu a noções eventualmente
complicadas para a minha tenra idade; como por exemplo, a da
santificação do trabalho e pelo trabalho, ilustrada no episódio da
Religiosa que, em seu leito de morte, pediu à Comunidade que alguém lhe
trouxesse a “chave do céu”.
Sem perceberem o sentido imediato daquela última vontade, todas as
Irmãs se desdobraram em propostas: desde o seu objecto de mais visível
devoção, até ao livro recomendado no último retiro. Nada, porém, parecia
corresponder ao desejo, que se reafirmava, cada vez mais débil:
“tragam-me a chave do céu”.
Foi uma noviça quem, num golpe inspirado, se lembrou que aquela
religiosa toda a vida tinha exercido a discreta tarefa de costureira.
Correu, então, à antiga sala do seu labor e de lá trouxe um carrinho de
linhas e uma agulha. Perante o olhar de espanto das suas Irmãs, a
agonizante ofereceu-lhe o mais sereno dos olhares. Sim, ali estava a sua
chave do céu – porque, afinal, o trabalho (qualquer trabalho) feito com
amor nos santifica!...
Importa (re) pensar esta dimensão. Porque, habituados a falar do suor
do rosto como preço do pão de cada dia, muitos deixam-se desviar para
uma visão do trabalho quase como castigo – em vez de o assumirem como
cooperação dignificante no cuidado da criação e, consequentemente,
abraçarem o valor divino deste caminho humano.
Realmente, apesar de desfigurado pelo pecado, não perdeu a bênção
original que sobre ele poisou o Criador; de tal modo que, sendo embora
um bem árduo, não deixou de ser um bem, uma necessidade vital e uma
afirmação de liberdade: uma liberdade que cada um de nós defende quando
resiste à obsessão produtiva avaramente procurada ou injustamente
imposta; e que ora desumaniza o próprio, ora marginaliza os mais fracos e
acaba por afundar no materialismo prático quem se julga vencedor… A
lógica da produção e do lucro asfixia, seguramente, quem se lhe entrega.
No seu catecismo para adultos, os bispos italianos exprimem
claramente a essência desta “riqueza desumana” que continuamente ganha
adeptos: coloca as coisas no lugar de Deus, impede que se ajude o
próximo, fixa a atenção nas vantagens imediatas e afasta o pensamento da
vida futura. É, enfim, pobreza interior, enquanto a pobreza evangélica é
riqueza interior (1123). Uma perspectiva claramente percebida pelo
carpinteiro José, profissional competente, homem justo e pai cuidados.
Sem comentários:
Enviar um comentário